Na semana passada, numa apresentação pública de um estudo sobre as relações sino-moçambicanas em contexto laboral em Maputo (estudo que será brevemente publicado numa obra do CEA da UEM, coordenado pelo Professor Carlos Serra), foi conferido particular destaque à desmistificação do rumor segundo o qual os trabalhadores chineses em Moçambique constituem populações presidiárias. Trata-se de um rumor largamente difundido por vários países da África austral, por exemplo em Angola, Namíbia, África do Sul e Botswana. A existência deste rumor pode dever-se a 4 factores:
b) ao facto de muitos africanos não estarem habituados a ver populações de origem não africana a realizar trabalhos braçais (conduzir máquinas nas obras, carregar baldes, etc.) e a dormir em camaratas, como o fazem muitos trabalhadores chineses.
c) Ao facto de os trabalhadores chineses realizarem longas horas de trabalho (por vezes 80 horas por semana) com uma disciplina laboral extrema e desconhecida no país.
d) Ao facto de estas populações se fecharem sobre si próprias, sobretudo quando interpeladas por populações não asiáticas. Ou seja, “se se escondem é porque têm algo a esconder”.
Um jornalista do jornal moçambicano O País esteve presente na referida apresentação dos resultados e, repetindo acriticamente uma reportagem do El País, deu o seguinte título à peça jornalística: "A invasão chinesa".
Possivelmente, estamos perante um novo receio, o de uma “invasão chinesa”, de uma “recolonização de África”. Recentemente comparei os movimentos migratórios de populações chinesas para outros países da Ásia, Europa e América e constatei que a esmagadora maioria destas populações não se desloca, de forma alguma, para o continente africano e muito menos para Moçambique.
Com base em dados de 1997 (portanto claramente desactualizados), a população chinesa na Indonésia (7,3 milhões), Tailândia (6,3 milhões), Malásia (5,4 milhões), Estados Unidos (2,7 milhões), Rússia (1 milhão) é claramente superior à actual população chinesa na África do Sul (já li que são 300 mil, também já li que são cerca de 500 mil) ou em Moçambique (actualmente são 10 mil? 20 mil? ninguém sabe ao certo).
O que é uma "invasão"? Porquê a utilização deste conceito? Faz sentido falar em “invasão chinesa”?
Achei importante e interessante uma das constatações do estudo ora em progresso segundo o qual: os chineses que vêm "invadindo" moçambique deve-se (b) ao facto de muitos africanos não estarem habituados a ver populações de origem não africana a realizar trabalhos braçais (conduzir máquinas nas obras, carregar baldes, etc.) e a dormir em camaratas, como o fazem muitos trabalhadores chineses. Esta constatação pode ser a mais verdadeira na medida em que muitas mentes africanas estão com o estigma da colonização e o complexo de superioridade de pessoas de pigmentação branca sobre as outras de pigmentação diferente.
ResponderEliminarÉis um debate que julgo interessante e importante se considerar que uma das finalidades deste seria diminuir preconceitos africanos sobre realidades mundiais tendentes a escravisar-nos. Acho que como africanos devemos aceitar que trabalho é sempre trabalho para uns e para outros e que os imperios asiáticos, americanos e europeus são produto de trabalho de qualquer natureza, tanto mais que as máquinas em uso hoje são produto da experiência com trabalhos manuais. Vamos trabalhar e deixemos preconceitos para o passado.
Emídio, porque preferes insistir na expressão "invasão"? Mas o que é afinal uma "invasão"?
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