2. Visão do mundo e utilidade social. Hipótese: quanto mais fortes, actualizados e diversificados forem os holofotes teórico-metodológicos que assentamos sobre os fenómenos, maiores deverão ser a visibilidade e a profundidade obtidas. Por isso devemos ser muito rigorosos nesse sentido. Mas, ao mesmo tempo, devemos evitar a ilusão de que tudo se resume a uma questão de rigor e de treino teórico-metodológico (sedução positivista e, de alguma maneira, mimese das ciências natureza), como se analisar seres humanos pudesse ser feito com a mesma frieza e com o mesmo distanciamento com que analisamos quarks. A esse respeito, permito-me propor dois eixos de reflexão:
2.1. A consciência de que em seu trabalho todo o cientista social é condicionado por uma determinada visão do mundo, por algo que Pierre Bourdieu chamou um dia “as categorias de pensamento impensadas que delimitam o pensável e predeterminam o pensamento”.
2.2. A consciência de que as ciências sociais só são verdadeiramente úteis caso contribuam para melhorar a vida dos seres humanos. Neste sentido, talvez não seja ocioso retomar a pergunta que, no século XVIII, Jean-Jacques Rousseau fez, com a linguagem da época: tem o progresso das ciências e das artes contribuído para a virtude e para a felicidade dos seres humanos? Isto exige que nos interroguemos sobre o que e como fazemos e, quero crer, sobre uma maior intervenção social dos cientistas para além dos seus habituais campos de acção: faculdades, laboratórios, centros, seminários, etc.
Riscos científicos
Os riscos da consultorização das ciências em geral e das sociais em particular em África: o cientista trabalhando sob o acicate de uma encomenda externa e não nos carris da carreira académica; a procura internacional (e não mais nacional) regulando as agendas de pesquisa; a busca de benefícios, mais do que de saberes, tornando-se a máxima de acção; o mercado regulando e avaliando a actividade dos pesquisadores, não mais os pares.
Protocolos de pesquisa
1. Protocolos andróginos: das quantidades de um questionário à qualidade personalizada dos comentários no verso (exemplos de aplicação em escalas adaptadas de Likert); redacções de alunos do ensino primário com resultados inesperados (exemplo com uma pesquisa sobre linchamentos em Moçambique).
2. Antropologia do vestuário e dos adereços: sinais de mudança social
3. Antropologia dos rumores: estudo de fusíveis sociais
Referências bibliográficas
http://www.diplomatie.gouv.fr/fr/IMG/pdf/L_etat_des_sciences_en_Afrique.pdf
-Barber, Karin, Readings in African Popular Culture. London/Indiana: Indiana University Press/James Currey, 1997.
- Leclerc, Gérard, L’ observation de l’ homme, Une histoire des enquêtes sociales. Paris: Seuil, 1979
-Lepenies, Wolf, Les trois cultures, Entre science et littérature l’ avènement de la sociologie. Paris: Éditions de la Maison des sciences de l’ homme, 1990
-Löwy, Michael, As aventuras de Karl Marx contra o Barão de Münchhausen, Marxismo e positivismo na sociologia do conhecimento. São Paulo: Cortez Editora, 1996, 5 ed.
-Mills, C. Wright, The sociological imagination. New York: Oxford University Press, 1968
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