sábado, 29 de maio de 2010

A inter-produção de conhecimento

Por diversos países do continente europeu ou americano encontramos inúmeros centros de estudos africanos. Ainda que não tenha dados empíricos sobre o assunto tenho por hipótese que os investigadores não africanos estão claramente sobre-representados na maioria destas universidades, nas conferências internacionais ou nas revistas especializadas sobre o conhecimento de África.

Por que motivo não se multiplicam, no continente africano e da mesma forma, centros de estudos europeus, centros de estudos americanos ou centros de estudos asiáticos? Afinal são os que mais investem no continente. Parece-me que não seria muito difícil encontrar financiamento.

sexta-feira, 28 de maio de 2010

Documentário: Língua-vidas em português + Este ano comemora-se o centenário de Aurélio Buarque de Holanda


Este ano comemora-se o centenário de Aurélio Buarque de Holanda

O professor Aurélio Buarque de Holanda era tão apaixonado pelas palavras que decidiu criar o seu próprio dicionário e o seu nome passou a ser conhecido por todos como o dicionário Aurélio.

Mas ele foi autor, filólogo, escritor, tradutor, crítico. O autor popularizou o acesso ao dicionário e inovou ao introduzir citações de outros autores ao lado da definição das palavras. Mas não deixou que o próprio nome fosse incluído na lista, como sinônimo de dicionário.

O Arquivo N presta uma homengem ao centenário de Aurélio Buarque de Holanda.



Documentário: Língua-vidas em português
Vi esse trecho e fiquei com muita vontade de ver todo.
Esse vai pra minha lista de coisas para baixar na internet.
Fica a dica :D

quinta-feira, 27 de maio de 2010

Bacon e o "método da abelha"

De Francis Bacon: "Aqueles que se ocuparam das ciências foram ou Empiristas ou Dogmáticos. Os Empiristas, à maneira das formigas, apenas amontoam e consomem; os Racionalistas, à maneira das aranhas, tecem teias a partir de si próprios: mas o método da abelha situa-se a meio, já que recolhe a matéria das flores dos jardins e dos campos, mas transforma-a e digere-a através de uma faculdade que lhe é própria. E não é diferente o verdadeiro trabalho da filosofia; não se alimenta apenas ou principalmente das forças da mente, nem deposita intocável, na memória, a matéria que lhe é fornecida pela história natural ou pelas experiências mecânicas, mas antes no entendimento, uma vez modificada e transformada. Assim, de uma aliança mais estreita e respeitada entre estas duas faculdades, a experimental e a racional, aliança que até agora ainda não foi conseguida, algo de bom é de esperar.(...)" BACON, Francis. Novum organum, XCV.

terça-feira, 25 de maio de 2010

Playboy em Angola e Moçambique

South Africa's first 'Playboy' edition of 1993
De acordo com o Afrol News a revista erótica playboy tem em vista a criação de uma edição angolana ainda durante este ano, considerando também a possibilidade de Moçambique.

A revista apresenta-se a si própria como um espaço de "nude girls, sexy women and playmates" e, desde o início, tem sido alvo da contestação de grupos conservadores e feministas, pelo facto de apresentarem o corpo da mulher de uma forma sexista. A contestação tem variado, no entanto, de continente para continente.

A notícia faz uma observação interessante: No continente africano regista-se um profundo conservadorismo em relação ao sexo e revistas como a Playboy constituem ainda um tabu, tendo inclusive sido banidas em vários países. Exceptua-se a África do Sul, que tem publicada a sua própria edição desde 1993. De acordo com a notícia, Angola e Moçambique constituiriam o segundo e terceiro país africano a publicar a sua edição nacional da Playboy e o grupo alvo constituirá, num primeiro momento, os milhares de imigrantes portugueses residentes nestes dois países.

A concretizar-se este projecto da Playboy, como será a reacção das sociedades angolanas e moçambicanas a este fenómeno? Que espaço terá a revista no mercado local? Quem constituirão os grupos-alvo?

segunda-feira, 24 de maio de 2010

domingo, 23 de maio de 2010

"Invasão chinesa"?

(Um casal moçambicano espreita por entre o portão do estaleiro do futuro estádio nacional, em Maputo, 2009)

Na semana passada, numa apresentação pública de um estudo sobre as relações sino-moçambicanas em contexto laboral em Maputo (estudo que será brevemente publicado numa obra do CEA da UEM, coordenado pelo Professor Carlos Serra), foi conferido particular destaque à desmistificação do rumor segundo o qual os trabalhadores chineses em Moçambique constituem populações presidiárias. Trata-se de um rumor largamente difundido por vários países da África austral, por exemplo em Angola, Namíbia, África do Sul e Botswana. A existência deste rumor pode dever-se a 4 factores:


a) à existência de uma memória histórica de trabalho forçado (vulgo chibalo)

b) ao facto de muitos africanos não estarem habituados a ver populações de origem não africana a realizar trabalhos braçais (conduzir máquinas nas obras, carregar baldes, etc.) e a dormir em camaratas, como o fazem muitos trabalhadores chineses.

c) Ao facto de os trabalhadores chineses realizarem longas horas de trabalho (por vezes 80 horas por semana) com uma disciplina laboral extrema e desconhecida no país.

d) Ao facto de estas populações se fecharem sobre si próprias, sobretudo quando interpeladas por populações não asiáticas. Ou seja, “se se escondem é porque têm algo a esconder”.


Um jornalista do jornal moçambicano O País esteve presente na referida apresentação dos resultados e, repetindo acriticamente uma reportagem do El País, deu o seguinte título à peça jornalística: "A invasão chinesa".

Possivelmente, estamos perante um novo receio, o de uma “invasão chinesa”, de uma “recolonização de África”. Recentemente comparei os movimentos migratórios de populações chinesas para outros países da Ásia, Europa e América e constatei que a esmagadora maioria destas populações não se desloca, de forma alguma, para o continente africano e muito menos para Moçambique.


Com base em dados de 1997 (portanto claramente desactualizados), a população chinesa na Indonésia (7,3 milhões), Tailândia (6,3 milhões), Malásia (5,4 milhões), Estados Unidos (2,7 milhões), Rússia (1 milhão) é claramente superior à actual população chinesa na África do Sul (já li que são 300 mil, também já li que são cerca de 500 mil) ou em Moçambique (actualmente são 10 mil? 20 mil? ninguém sabe ao certo).


O que é uma "invasão"? Porquê a utilização deste conceito? Faz sentido falar em “invasão chinesa”?

Qual a diferença entre Durkheim, Karl Marx e Max Weber?



Uma vez me deparei com essa pergunta na Internet. “Qual a diferença entre Durkheim, Karl Marx e Max Weber?”. Vi a seguinte resposta:

Émile Durkheim (Épinal, 15 de abril de 1858 — Paris, 15 de novembro de 1917) é considerado um dos pais da sociologia moderna. Durkheim foi o fundador da escola francesa de sociologia, posterior a Marx, que combinava a pesquisa empírica com a teoria sociológica. É reconhecido amplamente como um dos melhores teóricos do conceito da coerção social.Partindo da afirmação de que "os fatos sociais devem ser tratados como coisas", forneceu uma definição do normal e do patológico aplicada a cada sociedade.

Karl Heinrich Marx (Tréveris, 5 de maio de 1818 — Londres, 14 de março de 1883) foi um intelectual alemão considerado um dos fundadores da Sociologia. Também podemos encontrar a influência de Marx em várias outras áreas tais como: filosofia, economia, história já que o conhecimento humano, em sua época, não estava fragmentado em diversas especialidades da forma como se encontra hoje. Teve participação como intelectual e como revolucionário no movimento operário, sendo que ambos (Marx e o movimento operário) influenciaram uns aos outros durante o período em que o autor viveu.Atualmente é bastante difícil analisar a sociedade humana sem usar seu pensamento como referência, mesmo que a pessoa não seja simpática à ideologia construída em torno de seu pensamento intelectual, principalmente em relação aos seus conceitos econômicos.


Maximillian Carl Emil Weber (Erfurt, 21 de Abril de 1864 — Munique, 14 de Junho de 1920) foi um intelectual alemão, jurista, economista e considerado um dos fundadores da Sociologia. Seu irmão foi o também famoso sociólogo e economista Alfred Weber e sua esposa a socióloga e historiadora de direito Marianne Schnitger.
A análise da teoria weberiana como ciência tem como ponto de partida a distinção entre quatro tipos de ação:A ação racional com relação a um objetivo / A ação racional com relação a um valor/ A ação afetiva / A ação tradicional


Achei a resposta  muito simplória para acreditar que era só isso que os diferenciavam.
Lembrei de quando eu era pequeno e via televisão o dia inteiro. Aquela caixa mágica era meu vínculo com a sociedade para além do meu lar.

Na escola nunca fui o mais popular, nem fui bom em esportes. Hoje dou boas gargalhadas lembrando que as moças só falavam comigo para pedir as respostas das questões de matemática ou para pedir uma caneta.



Aos poucos fui me tornando mais introspectivo e aquela caixa mágica foi se tornando uma referência para mim. Já adulto comprei um computador e isso significou muito para meu trabalho. Então, meio que troquei a TV pelo computador, vale lembrar que os livros nunca perderam sua função para mim. Minha mãe uma vez me pegou literalmente com o rosto na tela da TV, ela me perguntou o que eu via ali, eu respondi que via pontos vermelhos, azuis e verdes.
Esses pontos ficaram na minha memória. Como podem 3 cores conseguirem mostrar todo o mundo?

Entrei na Universidade e descobri Marx, Durkheim e Weber, Os 3 porquinhos.
Na minha mente de alguma forma eu associei as cores aos autores, Marx era vermelhoDurkheim era Azul, e Weber era verde.
 
Sempre vinculei o pensamento de Durkheim a busca da harmonia na sociedade, já Marx eu associava a transformação, a luta de classes, a busca pela ruptura de velhos paradigmas, e Weber para mim era alguém que buscava os sentidos e os rumos que a sociedade poderia ter.

Como três pensamentos distintos podem ter o poder de descrever o mundo?
Eu achava isso incrível e por vezes tentei destruir as “casas dos 3 porquinhos” usando o lobo mau da realidade. Mas sempre uma das “casas - teorias” deles ficava em pé.



Analogia que eu fazia com o conto dos três porquinhos, que cada um construiu uma casa de material diferente buscando resolver o mesmo problema, o lobo mau que para mim era a realidade, que destrói todo e qualquer idealismo ou pretensa visão de mundo que tente confinar a realidade. 
Mas aquelas cores?
Depois descobri que aqueles pontos eram pixels, e que cada um deles contém as três cores: azul, verde e vermelho e que combinando tonalidades dos três pontos é possível exibir pouco mais de 16.7 milhões de cores diferentes. Foi então que as coisas começaram a fazer mais sentido.
Da mesma forma que somente três cores tinham a capacidade de representar a realidade na tela da TV, os clássicos conseguiam representar de alguma forma uma teoria social que representaria a realidade social,  nem que fosse de maneira desbotada.

Entendi que a habilidade das três teorias clássicas consiste justamente na capacidade delas de serem distintas entre si, de interpretarem a realidade social de três pontos de vista diferentes. Assim como na história dos três porquinhos, duas das três casas poderiam cair, mas pelo menos uma ia ficar de pé e dar conta do recado, e pelo menos igualar força com a realidade cruel do lobo mau.  

A vida vista "por baixo"


Um trabalho de Gemuce (entrevista que lhe fiz aqui), por mim colocado no "youtube" em Fevereiro de 2008. Trata-se do resultado de uma câmara de vídeo fixada em quem parte para e em quem vem da Catembe para a cidade de Maputo. Apreciem as roupas, os sapatos (reparem que as mulheres usam, regra geral, chinelos e sapatilhas, algumas vezes veremos sapatos de melhor qualidade), a forma de caminhar, os tipos sociais possíveis de descobrir, as capulanas, os sacos, as sacolas, os baldes, os tchovas, etc.

sábado, 22 de maio de 2010

Sociologia: desporto de combate

Nota: elo enviado pela Yla, estudante brasileira.

Comunicação simbólica e institucional na UEM

"Em termos de avisos constatou-se que predominam nas paredes o aviso “proibido afixação de anúncios e cartazes”. De facto existem espaços disponibilizados para o efeito, muitos dos quais não estão preenchidos. Na informação disponibilizada predomina aquela emitida por instituições externas à universidade (ICMA, FAO, MINERVA, Centro Franco-Moçambicano, EU, etc.), que comparativamente têm um carácter bem mais atractivo e apelativo (aposta na cor, na imagem e no design). Quando informação é emitida pela universidade predomina um discurso de cariz mais imperativo (ex. “os alunos são avisados” em vez de “informam-se os alunos”), de cariz mais vertical. A universidade apresenta-se de forma autoritária a exercer o seu poder sobre a produção de informação. A informação é vertical desencadeada pela UEM ou por instituições da sociedade civil e muito pouca por parte dos alunos (ou de instituições representativas dos mesmos). Nenhum aluno interpelado demonstrou conhecimento sobre a localização da sede da associação de estudantes. Refira-se que predomina a informação de cariz institucional (sobre eventos culturais, etc.) e muita pouca informação sobre eventos festivos."
No decorrer do atelier sobre Ciências Sociais realizado em Maputo, três equipas de cursantes executaram um pequeno trabalho prático numa tarde. O trabalho foi executado no campus da Universidade Eduardo Mondlane por cursantes de Angola, Guiné-Bissau, Cabo-Verde e Moçambique. Queiram conferir um dos trabalhos, de observação participante, ilustrado com fotografias, com o tema em epígrafe, aqui.

sexta-feira, 21 de maio de 2010

A definição de agendas de investigação

(Maputo, 1 de Maio de 2010)
Espero que tenham todos realizado uma boa viagem de regresso e que tenham gostado da cidade de Maputo.
Uma questão que durante o atelier mereceu aceso debate e que foi recorrente em várias sessões relacionou-se com a definição das agendas de investigação em África. De acordo com os intervenientes dos vários países, os modelos de análise são impostos de fora, cabendo aos investigadores africanos simplesmente executar projectos de investigação pensados por outros. De "pensadores", os investigadores passaram a "pensados". Acho que ainda há algumas questões para reflectir e que não se esgotam na lista seguinte:
1- Que temas têm merecido maior atenção por parte das agências de financiamento/consultoria?
2- As consultorias têm permitido a realização de investigações que de outra forma não seriam exequíveis? De uma forma geral é possível avaliar a qualidade/credibilidade desses trabalhos?
3- O que são temas de interesse africano? Ou melhor, que temas poderiam ser definidos como prioritários pelos centros de investigação africanos (independentemente do que é ou não financiável)?
4- Na sequência da questão anterior, que critérios estariam subjacentes a essa determinação? Que motivações (políticas) estariam inerentes a esse interesse?

Comunicação

No ontem terminado seminário do CODESRIA/CEA, os estudantes executaram trabalhos práticos. Um dos três grupos trabalhou uma tarde a estudar a "Comunicação institucional da UEM". Aguardem os resultados.

quinta-feira, 20 de maio de 2010

Boa tarde a todos

A todos tenham uma óptima viagem e aos Moçambicanos um grande kanimambo.
Armando N'nhinda (cursante da Guiné-Bissau)

Termina hoje seminário CODESRIA/CEA


Termina hoje o seminário do CODESRIA, iniciado dia 16 no Centro de Estudos Africanos. Em cima, a representante do CODESRIA, Senhora Sokhana Touré; em baixo, parte dos cursantes. O seminário conta com um portal, aqui. Se quiser ampliar as imagens, clique sobre elas com o lado esquerdo do rato.

quarta-feira, 19 de maio de 2010

Documentos de Clara Saraiva

Queira consultar documentos de apoio da colega Clara Saraiva, aqui e aqui.

CODESRIA/CEA/José Mucavele



Ontem, num restaurante da cidade de Maputo, os participantes do seminário organizado no CEA pelo CODESRIA reuniram-se num jantar. Com eles esteve o nosso cantor José Mucavele. Na imagem de cima, a representante do CODESRIA, a senegalesa Sokhna Touré; na imagem a seguir, Mucavele actuando no seu belo show; a seguir, a brasileira Alyxandra Nunes, acompanhada por José Mucavele; finalmente, alguns outros colegas (Angola, Guiné-Bissau, Cabo-Verde e Moçambique). Fotos minhas.
Entretanto, o seminário prossegue hoje.

domingo, 16 de maio de 2010

Atelier começou hoje






Com a participação de mestrandos e doutorandos de Angola, Cabo-Verde, Guiné-Bissau e Moçambique, teve hoje início no Centro de Estudos Africanos da Universidade Eduardo Mondlane, em sessão presidida pelo seu director, Professor Armindo Ngunga, o atelier sub-regional de Metodologia em Ciências Sociais em África - Sessão especial para os Países Africanos Lusófonos, 2010 - Pesquisa de terreno e teorias do inquérito qualitativo, organizado pelo CODESRIA. O término é dia 20. Os pesquisadores enquadradores são Salvador Forquilha, Clara Saraiva, Luca Bussotti e Carlos Serra. Fotos assinalando alguns momento da sessão de abertura.

sábado, 15 de maio de 2010

Documentos de Salvador Forquilha

O colega Salvador Forquilha preparou três documentos de apoio, descarregáveis aqui, aqui e aqui.

sexta-feira, 14 de maio de 2010

Programa+Participantes

Pode consultar o programa do painel e a lista de participantes, respectivamente aqui e aqui.

quinta-feira, 13 de maio de 2010

Fichas de Clara Saraiva

A colega Clara Saraiva preparou quatro fichas de trabalho, descarregáveis aqui, aqui, aqui e aqui.

segunda-feira, 10 de maio de 2010

Fichas de Luca Bussotti

O nosso colega do painel, Luca Bussotti, preparou quatro fichas de trabalho, descarregáveis aqui, aqui, aqui e aqui.

Sugestão de consulta


A conferir aqui.

sexta-feira, 7 de maio de 2010

SCSR


Leia aqui. Para traduzir: translation

QRMNET Africa


Leia aqui. Para traduzir: translation

quinta-feira, 6 de maio de 2010

Facto e história


Texto na íntegra aqui.Para traduzir: translation services

História e método com Elikia Mbokolo


Leia a entrevista com Elikia Mbokolo aqui. Para traduzir: translation services

Consultorias e externalização das ciências em África

Segundo um estudo feito em 15 países africanos (incluindo Moçambique) e divulgado em 2002, a pesquisa universitária não desapareceu em África, mas em muitos locais o seu modo de produção mudou devido ao impacto das consultorias. Eis algumas das suas características:
- Cerca de 30% dos cientistas trabalham sob o acicate de uma encomenda externa e não nos carris integrais da carreira académica
- A actividade exerce-se em redes mundiais
- A procura internacional (e não mais nacional) regula as agendas de pesquisa
- A busca de benefícios (mais do que de saberes) tornou-se a máxima de acção
- É o mercado que, cada vez mais, regula e avalia a actividade dos pesquisadores, não os pares.
A esse cenário escapam, ainda, países como a África do Sul e alguns países do norte de África. Confira em francês aqui. Para traduzir, aqui:
Free Translation

Tópicos a desenvolver por Carlos Serra

Epistemologia e condicionamento
1. Da ciência dos indivíduos e das substâncias à ciência dos números e das regularidades: busca de leis sociais e vertigem métrica; o dilema positivista de Comte
2. Visão do mundo e utilidade social. Hipótese: quanto mais fortes, actualizados e diversificados forem os holofotes teórico-metodológicos que assentamos sobre os fenómenos, maiores deverão ser a visibilidade e a profundidade obtidas. Por isso devemos ser muito rigorosos nesse sentido. Mas, ao mesmo tempo, devemos evitar a ilusão de que tudo se resume a uma questão de rigor e de treino teórico-metodológico (sedução positivista e, de alguma maneira, mimese das ciências natureza), como se analisar seres humanos pudesse ser feito com a mesma frieza e com o mesmo distanciamento com que analisamos quarks. A esse respeito, permito-me propor dois eixos de reflexão:
2.1. A consciência de que em seu trabalho todo o cientista social é condicionado por uma determinada visão do mundo, por algo que Pierre Bourdieu chamou um dia “as categorias de pensamento impensadas que delimitam o pensável e predeterminam o pensamento”.
2.2. A consciência de que as ciências sociais só são verdadeiramente úteis caso contribuam para melhorar a vida dos seres humanos. Neste sentido, talvez não seja ocioso retomar a pergunta que, no século XVIII, Jean-Jacques Rousseau fez, com a linguagem da época: tem o progresso das ciências e das artes contribuído para a virtude e para a felicidade dos seres humanos? Isto exige que nos interroguemos sobre o que e como fazemos e, quero crer, sobre uma maior intervenção social dos cientistas para além dos seus habituais campos de acção: faculdades, laboratórios, centros, seminários, etc.
Riscos científicos
Os riscos da consultorização das ciências em geral e das sociais em particular em África: o cientista trabalhando sob o acicate de uma encomenda externa e não nos carris da carreira académica; a procura internacional (e não mais nacional) regulando as agendas de pesquisa; a busca de benefícios, mais do que de saberes, tornando-se a máxima de acção; o mercado regulando e avaliando a actividade dos pesquisadores, não mais os pares.
Protocolos de pesquisa
1. Protocolos andróginos: das quantidades de um questionário à qualidade personalizada dos comentários no verso (exemplos de aplicação em escalas adaptadas de Likert); redacções de alunos do ensino primário com resultados inesperados (exemplo com uma pesquisa sobre linchamentos em Moçambique).
2. Antropologia do vestuário e dos adereços: sinais de mudança social
3. Antropologia dos rumores: estudo de fusíveis sociais
4. Antropologia dos grafitos e dos cartuns: campos poucos explorados

Referências bibliográficas

http://www.diplomatie.gouv.fr/fr/IMG/pdf/L_etat_des_sciences_en_Afrique.pdf
-Barber, Karin, Readings in African Popular Culture. London/Indiana: Indiana University Press/James Currey, 1997.
- Leclerc, Gérard, L’ observation de l’ homme, Une histoire des enquêtes sociales. Paris: Seuil, 1979
-Lepenies, Wolf, Les trois cultures, Entre science et littérature l’ avènement de la sociologie. Paris: Éditions de la Maison des sciences de l’ homme, 1990
-Löwy, Michael, As aventuras de Karl Marx contra o Barão de Münchhausen, Marxismo e positivismo na sociologia do conhecimento. São Paulo: Cortez Editora, 1996, 5 ed.
-Mills, C. Wright, The sociological imagination. New York: Oxford University Press, 1968

Tópicos a desenvolver por Salvador Forquilha

Sessão I : enquadramento geral e política de terreno - reflexão sobre instrumentos de pesquisa e seu papel no processo de produção de dados qualitativos; alguns princípios que comandam o trabalho do pesquisador de terreno.
Sessão II: observação, entrevistas e fontes escritas (literatura cinzenta) - significado de cada um destes instrumentos, suas vantagens e limitações.
Sessão III: combinação dos instrumentos técnicos de pesquisa - o ecletismo: vantagens, limitações e desafios no processo de produção de dados.
Sessão IV: trabalhos em grupo - com base nas propostas de pesquisa dos participantes, modalidades concretas de combinação de observação, entrevistas e fontes escritas.

Referências bibliográficas
Silva, Augusto Santos & Pinto, Madureira, 1986, Metodologia das Ciências Sociais. Porto: Afrontamento.
Olivier de Sardan, Jean-Pierre. 1995. La politique du terrain. Sur la production des donnés en Anthropologie. Enquête, n.1

Tópicos a desenvolver por Clara Saraiva

1) Os métodos qualitativos na antropologia social e cultural I. Comparação com os métodos de outras ciências sociais
2) Os métodos qualitativos na antropologia social e cultural II . Um exercício prático baseado no documentário etnográfico “A minha aldeia não mais vive (é) aqui”
3) Pesquisa etnográfica. Diversidade cultural e tipo de trabalho de campo – fazendo trabalho de campo em casa e fora: abordagens emic/ethic e temas éticos. Trabalho de campo em zonas problemáticas ou com temas difíceis - gerindo emoções.
4) Do princípio da pesquisa ao texto final

Referências bibliográficas
BRIGGS, C. 1986 Learning how to ask, Cambridge, Cambridge University Press.
BURGUESS, R. 1984 In the field. An introduction to field research, London, Routledege.
CANE, J., ANGROSIAO, M. 1974 Field projects in anthropology, New Jersey, General Learning Press.
HUNT, M. 1985 Profiles of social research, New York, Russell Sage Foundation.
KAPLAM, A. s.d. The conduct of inquiry. Methodology for behavioral sciences. New York, Harper and Row.
MISHLER, E. 1991 Research interviewing. Context and narrative. Cambridge, Harvard University Press.
PELTO, P. 1970 Anthropological research. The structure of the inquiry, New York, Harper and Row.
POIRIER, Jean at al 1983 Les recits de vie. Theorie et pratique. Paris, PUF.
RADCLIFFE-BROWN, A.R. 1958 Method in social anthropology. Chicago. The University of Chicago Press.
SILVERMAN, D. (ed) 2006 Qualitative research. Theory, method and practice. London, Sage Publications.
SPRADLEY, J. 1979 The ethnographic interview, New York Rinehard and Winston.
SPRADLEY, J. 1980 Participant observation, New York Rinehard and Winston.
WHYTE, Williams 1984 Learning from the field. A guide from experience. Beverly Hills, Sage Publ.
WAX, R. 1975 Doing fieldwork. Warnings and advices. Chicago. The University of Chicago Press.
WILLIAMS, T. 1967 Field methods in the study of culture, New York, Rinehardt and Winston

Tópicos a desenvolver por Luca Bussotti

1. Epistemologia das Ciências Sociais: a lição dos clássicos
2. A observação participante
3. A entrevista

Resumo do tema do painel 2010

A luta pela sobrevivência em África e um contexto global mais vasto exigem que reavaliemos a pesquisa em ciências sociais no continente. Corremos vários riscos severos, entre os quais a ideologização, os resultados predeterminados, a banalização dos protocolos da pesquisa, o imediatismo analítico, o discurso literário e a sobrevalorização do quantitativismo. Devemos regressar aos fundamentos do trabalho científico rigoroso e organizar o pensamento com base nesta pergunta: como estabelecer uma ligação produtiva entre teoria e investigação empírica? Responder a essa pergunta significa, cruzando disciplinas e métodos, privilegiar nas dinamicas sociais africanas os métodos e os instrumentos de pesquisa qualitativos, que não podem ser considerados como menos rigorosos do que os quantitativos. Para tal urge debater a clivagem tradicional entre quantidade e qualidade (discutindo a quantificação nas ciências sociais), a ilusão do saber imediato (reabilitando a "construção do objecto") e os instrumentos técnicos de colecta de dados (da entrevista à fotografia).

terça-feira, 4 de maio de 2010

Atelier


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